sábado, 7 de maio de 2011

Pão com manteiga

Eles resolveram tomar café da manhã na cafeteria, ao ar livre. O sol estva no alto, mas não estava forte. Ela sempre foi viciada em café e ele estava com fome. Pediram pão com manteiga e café. Ela nao tinha esse costume de comer de manhã, ainda mais pão com manteiga, que tem esse sabor de infância, de casa de vó. Mas sempre que tomavam café da manhã juntos ela comia pão com manteiga e dizia:

- Nossa, faz muito tempo que não como pão manteiga.
- Você sempre diz isso.
- E vc sempre diz que e digo isso, então estamos quites. É nossa rotina sabe?
- Qual?
- Essa, de comer sempre pão com manteiga, e tomar sempre café, e vc nunca querer acordar...preguiçoso!
- Isso, e vc sempre reclamar da sua falta de cafeína no corpo.
- Isso, essa é a nossa rotina. Pão com manteiga, assunto repetitivo e café.
- Falando desse jeito parece ruim.
- Não é não, estou me divertindo e vc?
-Também...eu gosto de vc, sabe?
- Eu também seu bobo.
- Sabe, eu acho que a gente pode dar certo, sei lá.
-Eu tb acho, a gente é muito diferente mas...acho q dá certo sim.
- Vc que é dramática!
- Sou nada, vc que é muito sossegado, seu hippie rs.
- Eu posso me acostumar com seu drama.
- Talvez eu me acostume com esse seu jeito "relax"de ser

Ela disse o que sentia, coisa que não era comum para ela, nem sentir nem falar sobre isso. Ele disse o que sentia, coisa que era comum para ele, sentir, dizer e sentir de novo. Ela sabia que ele a fazia feliz, que de certa forma era seu complemento, que de certa forma era exatamente o seu oposto. Ela toda acelerada, sempre fazendo alguma coisa, sempre pensando em algo, trabalhando muito, saindo demais, falando demais. E ele era calmo, nao se preocupava com prazos, tempo, dias, todas essas coisas que nos limitam, que nos prendem, ele nao e preocupava com isso, vivia no seu próprio ritmo, sensível a tudo.

Mas algo estava errado, ela não sabia o que exatamente só sabia que  havia algo de muito errado, então ela fugiu, tentou voltar depois, mas já era tarde demais, ela fugiu dele, da sua calma, dos seus sentimentos, do seu oposto que lhe fazia tão bem. Ela seguiu em frente, fingindo que não sentia, fingindo que não se importa, até que se acostumou. Teve outros cafés da manhã, mas nunca mais comer pão com manteiga foi a mesma coisa.

Um comentário:

  1. Que lindo e triste ao mesmo tempo!!!!Você escreve muito bem!!!! beijão

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