domingo, 23 de janeiro de 2011

Se meu coração...

Se meu coração fosse uma borboleta seria uma mariposa. Sem cor, buscando luz, lutando no escuro e sendo rejeitado como algo incomum e pavoroso.

Se meu coração fosse uma flor, seria um crisântemo branco, usado para enfeitar caixões banhado em lágrimas de um último adeus.

Se meu coração fosse uma cidade, serião Sao Paulo que abriga todos não importa de onde venham, mas é sujo, violento e nada seguro.

Se meu coração fosse um hemisferio seria o norte, cercado de gelo e incapaz de produzir algo quente e aconchegante.

Se meu coração fosse uma língua, seria uma lingua morta que já se transformou em outras e o que ele diz ninguém compreende.

Se meu coração fosse um navio, estaria bem longe em alto mar sem saber pra onde vai buscando terra firme.

Se meu coração fosse de porcelana, já teria quebrado em mil pedaços e jamais seria possível reconstruí-lo.

Se meu coração fosse uma pedra, seria um diamente que jamais quebra ou risca e guarda bem o que tem lá dentro.

Se meu coração chorasse, ele choraria por dias sem parar esperando um motivo pra sorrir.

Se meu coração fosse programado, eu o programaria para amar apenas o que vale a pena e não o programaria param mais nada.

Mas o que ele é? Ele é fraco e grande, e todo riscado cheio de feridas que crescem, e se multiplicam mas parece que não fecham nunca. Meu coração não tem fé,  nao tem alegria, está oco aqui dentro e de tanto doer não pulsa mais. Queria que meu coração fosse uma borboleta dessas coloridas que saem ao ar livre aproveitando o dia e se alimentando de flores, mas não, meu coração não é uma borboleta. Meu coração virou uma mariposa que busca incessantemente por luz...só um pouco de luz!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Fotos antigas

Olhando minhas fotos antigas eu lembrei de um tempo em que acreditei no pra sempre. Que acreditei que pra sempre seríamos amigos, pra sempre seríamos jovens, pra sempre seríamos felizes. Lembrei daquela época em que responsabilidade era tirar notas boas e nao pagar contas atrasadas. Daquela época em que problema era de matemática, rir era sinal de felicidade e não uma piada engraçada, chorar era sinal de tristeza e nao de stress, brincar era divertido, ler era por prazer e segredos eram bobagens.


Olhando minhas fotos antigas eu lembrei do cheiro que tinha a escola do primário, dos traumas da pré escola e do playground do prédio. Lembrei das férias no interiror, o cheiro de café da fazenda, a criação de pintinhos que meu tio tinha no sítio, lembrei das histórias de terror que contávamos a noite e depois nao conseguiamos dormir. As aventuras que inventamos pelo cafezal. Das férias na praia e do mar azul que eu nao temia, da coragem de mergulhar, se entregar e nao sentir o chão, de nadar e se sentir livre. Os passeios de escuna em Ubatuba, e em Paraty, das pedras da cidade que me faziam tropeçar e também dos passáros roubando peixes dos pescadores.

Olhando minhas fotos antigas lembrei dos amigos, aqueles que foram, os que ficaram e os que jamais irão. Bateu uma saudade de ouvir aquelas vozes de uniforme me pedindo para tirar os olhos do livro e prestar atenção na vida. Das meninices do colégio, dos jogos de truco, dos clubes bobos que só eu tinha,da primeira decepção amorosa, da primeira vez que senti um frio na barriga, a primeira vez que chorei por alguém, a última vez que vi um amigo querido e a falta que ele faz. Deu saudades das tardes que passava no parque estudando e das peças de teatro que eu estragava com a minha atuação medíocre, das festas que eu nao fui porque nao achava graça, das tardes em que eu passei no shopping, e das fotos q eu nao sorri porque tinha vergonha do aparelho.


Olhando minhas fotos eu lembrei daqueles amigos da faculdade que estão aqui até hoje, e daquela que foi embora de modo tão injusto e deixou um vazio infinito em cada um de nós. Dos cafés na távola, das piadas entre aulas , das intrigas e dos amores que surgiram,alguns duram até hoje. Lembrei do primeiro dia de aula e de como nao podemos escolher quem marca nossa vida, só escolhemos o tempo que passamos com elas e nem sobre isso temos o controle.De como éramos jovens e rídiculos, e de como ainda somos ridículos mas nao tão jovens assim. Das responsabilidades que surgiram, do primeiro emprego, do segundo emprego, da mudança de rumo, das aulas de Latim, das apresentações de trabalhos que davam certo, das que nao davam tão certo assim também. Do tempo que passou voando e ainda estamos aqui olhando para toda esta história como se fosse ontem.

Olhar para o passado dói,  tem coisas que nao deveriam mudar nunca. Olhar para o passado é bom porque percebemos o quanto crescemos. A saudade consome, e a certeza de que nao controlamos a vida é assustadora. Uma coisa ficou: A voz dos meus colegas pedindo que eu tirasse os olhos do livro e olhasse pra vida, porque a vida passa, e no final só sobram as fotos e as histórias que suas figuras nos contam.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

The time has come again

- Não dá pra escolher os traumas que vamos ter na vida, sabe?
- Eu sei.....vc tem as suas marcas eu tenho as minhas.
- Sim, são similares, mas não são as mesmas, as suas doem mais, as suas....as suas feridas estão abertas ainda.
- E eu acho q elas nao fehcam nunca.
- Infelizmente tem coisas na vida que são pra sempre, isso que vc tem ai com você...isso é pra sempre.
- Podia ser uma coisa boa pelo menos.
- Ou você podia tomar mais coragem e contornar tudo isso, vale a pena nao vale?
- Não sei se eu quero isso, não sei se vale a pena.
- Vale e você sabe que vale! No fundo você só é mais um covarde, não é uma pessoa ruim, não é alguém que nao sabe o que quer....só é covarde...vc sabe o que quer nao sabe?
- Sei........
- Mas vc não vai atras do que vc quer nunca, né? Porque você tem medo e prefere mentir pra si mesmo do que tentar e se machucar mais, nao né?
- Sim...isso que eu tenho aqui já é suficiente pra carregar por um bom tempo, não preciso de outra coisa me machucando.
- Quem disse q machuca? E se vc acabar amando? E se for tua cura?
- Não...sei lá....eu..
- Você tem medo,é covarde eu sei....só que isso me machuca tb. Eu só nao entendo como você pode viver assim, querer e nao ter por pura covardia, eu só nao sei como vc consegue ser feliz nesse estado, fingindo que nao sente, fingindo que nao quer , fingindo que nao sabe!
- Sei lá, eu acostumei, aprendi a esconder
- De mim vc nao esconde nada, vc sabe q eu te conheço, que conheço seus olhos, vc mente o quanto quiser pra mim, seus olhos nunca mentiram.
- Eu sei...mas....não é q eu...é que...
- Você é um covarde, eu sei, e você me quer ali bonita esperando por uma decisão sua, esperando vc se curar dessa coisa dentro de vc q nao tem cura...só que isso, isso é pra sempre, eu poderia ser pra sempre também....mas você é covarde.
- E você esperaria? Se eu pedisse você esperaria?
- Não....eu também tenho meus traumas, minhas marcas, mas ao contrário de vc, eu nao deixo q elas me digam o que fazer, eu vou dizer como elas devem se comportar. Então, não, eu nao te espero nem mais um segundo.
- Mas agora eu nao...eu nao consigo.
-Eu sei que nao...tá vendo este buraco aqui? Sim, este mesmo que está pulsando aqui do lado esquerdo, esse buraco foi você quem fez. Era você no lugar desse buraco, sabia? E você faz tanta falta que ás vezes meu coração bate ao contrario tentando te trazer de volta, mas não dá, então ele se contorce, e sangra, e dói como nunca doeu antes em protesto. Você foi o maior buraco que ficou em mim.
- Entao me espere!
- Não, eu tenho meus traumas, você foi mais um deles, se eu me afastar agora meu buraco vai rasgar, vai sangrar, vai explodir! Mas depois ele fecha, fecha e vai ser só mais uma ciatriz, a maior até agora, mas vai ser só mais uma cicatriz entende? Eu  não vou deixar este buraco me dizer o q fazer, e nem uma cicatriz gigante vai me impedir de tentar alguma coisa, isso eu nao admito! Agora você....seu buraco nao fecha, ele sangra dia após dia, ele dói semana após semana, e ele só aumenta.... e você nem percebe.
- Eu nao escolhi isso, não queria ter isto em mim, queria que as coisas fossem diferentes, eu queria mesmo, mas é maior que eu, é mais forte.
- Pois é.....o que resta é dizer adeus! Chegou novamente a hora de se despedir, já fiz isso tantas vezes que sei que esta é a hora
- Mas agora? Fique mais um pouco...eu...
- Não seria tempo suficiente, eu vou enquanto me resta coragem.

Ela partiu e fechou a porta atras de si jurando nunca mais voltar para lá. Seu coração sangrou, torceu, explodiu, ela chorou, ela se despedaçou.Mas depois, como prometido, nao deixou uma cicatriz guiar a sua vida. Não deixou seus traumas lhe dizer o que era capaz de fazer ou nao, o coração estava vermelho e pulsante novamente.