terça-feira, 31 de maio de 2011

Memória

Raiva é saudades, queria não saber disso. É vontade de voltar no tempo e fazer tudo certo de novo, queria nao saber que não amamos só aquilo que vemos. O amor ás vezes fica escondido, camuflado dentro de nós, com uma falsa indiferença, como uma raiva fingida, um ódio que arde intensamente pro lado oposto.

A gente pensa que esquece, mas nao esquece. Tem coisas que nao vão embora nunca, e quanto menos falarmos delas, mais elas ficam com a gente."Amar o perdido deixa confundido este coração", já dizia Drummond. Seguir em frente é algo bom, mas a gente nao faz isso da noite pro dia, faz? Não dá pra esquecer em dias o que vivemos em anos. Por mais divertido, eufórico e excitante que seja o que estamos vivendo agora, aquela nostalgia esta sempre lá presente, nos lembrando de nossos medos, de hábitos antigos, feridas que nunca fecham. 

E o novo, aquela coisa excitante, eufórica e divertida nao parece ter sentido, parece minusculo diante de tudo aquilo que já passou, e aquilo que passou...foi mesmo? Melhor nao pensar nisso, melhor negar e dizer que é coisa do passado e nunca mais falar disso!

Negação é um mecanismo forte, posso me enganar e dizer que nao é bem assim, que o que passou passou e lá ficou. Mas na verdade, nao passou, esta comigo , pulsa dentro de mim diariamente, é o motivo desse medo infundado, desse 6 sentido que detecta tudo, desse medo de ser feliz que me impede de dormir a noite. Sim, medo de ser feliz, a gente acostuma com tudo na vida, até com aquilo que faz mal. Me acostumei assim, medrosa, e quando penso que tenho coragem, me vejo aqui, em cima do muro, sem coragem de pular pra lado nenhum.

sábado, 7 de maio de 2011

Pão com manteiga

Eles resolveram tomar café da manhã na cafeteria, ao ar livre. O sol estva no alto, mas não estava forte. Ela sempre foi viciada em café e ele estava com fome. Pediram pão com manteiga e café. Ela nao tinha esse costume de comer de manhã, ainda mais pão com manteiga, que tem esse sabor de infância, de casa de vó. Mas sempre que tomavam café da manhã juntos ela comia pão com manteiga e dizia:

- Nossa, faz muito tempo que não como pão manteiga.
- Você sempre diz isso.
- E vc sempre diz que e digo isso, então estamos quites. É nossa rotina sabe?
- Qual?
- Essa, de comer sempre pão com manteiga, e tomar sempre café, e vc nunca querer acordar...preguiçoso!
- Isso, e vc sempre reclamar da sua falta de cafeína no corpo.
- Isso, essa é a nossa rotina. Pão com manteiga, assunto repetitivo e café.
- Falando desse jeito parece ruim.
- Não é não, estou me divertindo e vc?
-Também...eu gosto de vc, sabe?
- Eu também seu bobo.
- Sabe, eu acho que a gente pode dar certo, sei lá.
-Eu tb acho, a gente é muito diferente mas...acho q dá certo sim.
- Vc que é dramática!
- Sou nada, vc que é muito sossegado, seu hippie rs.
- Eu posso me acostumar com seu drama.
- Talvez eu me acostume com esse seu jeito "relax"de ser

Ela disse o que sentia, coisa que não era comum para ela, nem sentir nem falar sobre isso. Ele disse o que sentia, coisa que era comum para ele, sentir, dizer e sentir de novo. Ela sabia que ele a fazia feliz, que de certa forma era seu complemento, que de certa forma era exatamente o seu oposto. Ela toda acelerada, sempre fazendo alguma coisa, sempre pensando em algo, trabalhando muito, saindo demais, falando demais. E ele era calmo, nao se preocupava com prazos, tempo, dias, todas essas coisas que nos limitam, que nos prendem, ele nao e preocupava com isso, vivia no seu próprio ritmo, sensível a tudo.

Mas algo estava errado, ela não sabia o que exatamente só sabia que  havia algo de muito errado, então ela fugiu, tentou voltar depois, mas já era tarde demais, ela fugiu dele, da sua calma, dos seus sentimentos, do seu oposto que lhe fazia tão bem. Ela seguiu em frente, fingindo que não sentia, fingindo que não se importa, até que se acostumou. Teve outros cafés da manhã, mas nunca mais comer pão com manteiga foi a mesma coisa.