segunda-feira, 30 de março de 2009

Vicky Cristina Barcelona

Poxa, faz tempo que estou para falar desse filme, e escolhi hoje como esse dia fatídico. O mais recente, nem tanto, filme do meu velhinho preferido do Cinema, o pedófilo pervertido Woody Allen "Vicky Cristina Barcelona" conta a história de duas amigas que vão para Barcelona e voltam de lá com uma visão de vida muito diferente, é só isso que vou falar da história do filme, se você ainda não assistiu, tudo bem, pode continuar lendo porque não vou entrar em detalhes da história.

Vicky é conservadora, está noiva, é uma garota certinha que não usa decote, e roupas somente em tons pastéis, coisa de moça de família. Ela tem certeza de que casar e ter filhos, esta estabilidade, é o que ela quer para seu futuro, e não consegue imaginar como outras pessoas possam pensar diferente.

Que é justamente o caso de sua amiga Cristina, que não sabe ainda o que quer da vida, mas sabe exatamente o que não quer, a estabilidade que agrada Vicky. Cristina vive intensamente suas paixões, vive cada dia como se fosse o último, mas tudo de forma fulgaz, nada com um significado profundo, apenas relações momentaneas, sem raízes.


Vicky por sua vez, precisa das raízes, precisa de alguém para dizer "Boa noite", precisa de uma aliança no dedo esquerdo e de um apartamento em Nova York com seu noivo, de um vestido branco e uma entrada memorável numa igreja, uma festa inesquecível e tudo mais o que muitas mulheres sonham desde os 5 anos de idade. Digo muitas mulheres porque não me incluo nessa, desde quando brincava de Barbie (o que não durou muito tempo) minha boneca sempre foi solteira e bem sucedida em sua carreira, isso pra mim sempre foi sinônimo de final feliz.

Voltando ao filme, esta viagem a Barcelona muda completamente a visão de ambas em relação ao amor. Vicky passa a questionar se ela realmente quer esta estabilidade em sua vida, e Cristina por sua vez, questiona se não seria melhor sossegar um pouco. Dessa forma, cada uma descobre coisas sobre si que não conhecia, sentimentos que não sabiam que seriam capazes de ter, ações que jamais pensaram em realizar. E consequentemente entendem melhor uma a outra, entendem que em Vicky há um pouco de Cristina e vice-versa, que na vida não somos nunca o extremo, que quando menos esperamos estamos vacilando entre um lado e o outro. Elas aprendem que o amor assume diversas formas, diversas facetas e que nem sempre podemos controlar isso, na verdade nunca, não podemos controlar o que sentimos por quem sentimos.

Essa coisa de não ter o controle é muito desconfortável, especialmente para mim que tenho essa mania de fugir de tudo, Cristina por sua vez não tem problemas com isso, ela está acostumada a perder o controle e viver intensamente, seja lá o que isso signifique. Mas a Vicky, como eu, não consegue não ter controle, ela é racional, ela é pés no chão, então, se apega ao que é mais seguro, mesmo não sendo aquilo que ela quer.

O que mais me surpreendeu foi a hipótese de que, nunca temos certeza de nada, nunca podemos afirmar com 100% de certeza aquilo que queremos, pois, a ação mais inocente, como viajar com uma amiga, pode mudar tudo o que sentimos, pode mudar a forma como encaramos nossa realidade.

Eu não me nejo como Vicky, almejando estabilidade, aliás, estabilidade e rótulos me assustam, mas também não chego ao extremo de Cristina de sair por ae experimentando tudo, inclusive a Penélope cruz, mas concordo com ela quando diz que não sabe o que quer, só sabe o que não quer.

Eu não quero ficar presa numa jaula de formalidades e rótulos, mas quero me apaixonar, quero ter alguém pra pensar antes de dormir, um companheiro e deixar esta história rolar, quero me apaixonar e ter alguém apaixonado por mim também, mas ao mesmo tempo, meu sossego está tão bom, gosto tanto de ficar assim eu comigo mesma. Não me sinto sozinha, não quero alguém pra passar o final de semana, tenho muitas pessoas para passar o final de semana comigo, só acho que está na hora de perder um pouco o controle e ver o que acontece.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Não saber é melhor

Cheguei a uma conclusão libertadora, mas ao mesmo tempo não muito satisfatória. Nunca mais fui a mesma depois que comecei a Faculdade. Letras é um curso que muda muito a gente. Ficamos mais sensíveis, mais críticos, mais exigentes, entendemos mais das coisas.....e esse é o problema, porque entender tudo tira as dúvidas, acaba com a ilusão e ás vezes a realidade não é bem o que a gente queria, por quê? por que eu não pude continuar iludida?

Você estuda análise de discurso e procura elementos verbais e não-verbais para sustentar a sua teoria, e você quer estar certa, você quer que o texto lhe dê margem para concluir que a realidade é a sua idealização, mas o texto, aqueles malditos adjetivos, advérbios, aquele discurso direto e frio insuportável, não te dão margem para sustentar a sua teoria. Droga! como eu queria não saber análise de discurso de vez em quando. Não saber é tão...simples!

Você passa a escolher cautelosamente suas palavras, pensa cuidadosamente no efeito de suas frases e não acredita no que os outros dizem, não acredita de verdade, você entende que as palavras são fabricadas e estão lá por um motivo, aprende que palavras não são sentimentos, são apenas palavras, colocadas cuidadosamente para induzir seu pensamento, e fabricar um sentimento.

Eu não acredito mais em palavras, acredito em ações, em fotos, em placas, mas não em palavras. E ultimamente os signos verbais que tenho lido não apóiam os signos não-verbais que encontro, tornando o discurso ambiguo, ou neutro.....e neutralidade me irrita! Não existe neutralidade! Bem nas entrelinhas existe uma escolha, mas por que as pessoas simplesmente não a revelam?

Queria não ter conhecimento de análise de discurso, queria ser ingênua e acreditar em tudo que em dizem, queria não saber ler nas entrelinhas, queria não ter sexto sentido, queria ser ignorante e não saber de nada disso porque quem sabe desse jeito minhas ilusões, minhas idealizações não seriam facilmente destruídas. Não saber....é muito melhor.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Confiança

Eu confio cegamente nas pessoas....até que elas me provem o contrário. Parto do princípo de que todo mundo é bonzinho, que eu só atraio pessoas bacanas e aos poucos vou me abrindo, confiando, conhecendo, na maioria das vezes estou certa, porque sei escolher as pessoas que me rodeiam. Mas tem os dias que eu erro...e ai dói um bocado.

Sou muito sincera, confiável e fiel também, por isso espero o mesmo das outras pessoas, e já dou um voto de 100% de confiança logo de cara, não me ofendo fácil e relevo muita coisa, para perder minha confiança é difícil porque eu sei que ninguém é perfeito e todo mundo vacila de vez em quando. Mas uma vez perdida a confiança, não tem volta. Se me machucar de verdade, eu até perdôo, mas não dou outra chance, porque, o que me garante que isso não vai acontecer de novo?

Muitas vezes as pessoas se machucam porque esperam coisas diferentes uma das outras.Bom, eu não sou de falar abertamente o que eu espero, o que eu sinto, mas dou várias indiretas, o que ao meu entender são suficientes, e para mim uma ação vale mais do que um livro inteiro...é incrível como apenas uma ação poder quebrar toda confiança.

E eu simplesmente me afasto, não vou expor minha indignação porque de verdade, não há nada que possa ser dito para justificar essa ação, se eu achasse que algum argumento faria alguma diferença no meu julgamento, eu falaria! Mas, se eu não digo nada e simplesmente desapareço, é porque não há nada que possa ser feito, e vomitar palavras impensadas em cima da outra pessoa só deixa a ferida mais aberta...e quando se tem uma ferida o certo é cicatrizar e não cutucar. Mas eu não desanimo, não digo que as pessoas são todas iguais, que não dá pra confiar em ninguém...cada um é cada um e só porque uma pessoa me machucou, não quer dizer que todas irão..... Isso ae...bola pra frente!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu sei, mas não sabia!

Há cerca de 4 anos meu avô, o Paraguaio comunista, me disse algo que nunca esqueci, mas também não entendi muito bem. Estava contando para ele toda orgulhosa as coisas que eu e o pessoal do CA de Letras estávamos fazendo, contei das falcatruas da reitoria, do nosso Jornal, e etc com o peito cheio de orgulho, porque afinal de contas, meu avô foi um militante comunista, organizou geve, fazia reuniões escondidas, achei que ele ficaria orgulhoso de saber que eu também tenho uma visão crítica e sei que faço a diferença, aquela coisa do Vandré de "quem sabe faz a hora e nao espera acontecer". Depois de ouvir tudo o que tinha pra falar, ele soltou o violão olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e me disse num portunhol " A melhor coisa que pode acontecer para uma universidade é a existência de alunos como vocês, que lutem pelo que é certo. Mas a melhor coisa que você faz filha, é ficar o mais longe disso possível". Na hora não entendi muito bem o que ele quis dizer e falei qualquer coisa e tomei a vitamina que ele havia preparado para mim no café da manhã e fui embora protestar por alguma coisa.

Eu sempre li muito, e em algum momento enre Garcia Lorca, Drummond, Baudelaire e os Beatles eu li coisas sobre a ditadura. Então eu sei que o golpe de 1964 foi fabricado pelo imperialismo americano, eu sei que os militares tiveram curso de tortura com a CIA, eu sei do AI5, eu sei da passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, que a maior parte da dívida externa foi criada na época da Ditadura e que esse dinheiro foi usado para construir dezenas de estádios de futebol, ao invés de ser usado para a educação, ou para a saúde. Sei também que meu avô sumiu por uma semana na época do Regime militar e deixou minha vó ucraniana com 8 filhos desesperada; desesperada não, porque minha avó sempre teve solução pra tudo, a mulher é de aço.Eu sei que meu avô foi preso, sei que ele perdeu muitos amigos naquela época, outros enlouqueceram, se mataram, eu conheço muitas dessas histórias. Mas eu nunca pude entender tudo isso de verdade até ontem a noite.

Ontem eu tive uma aula sobre o período de Regime Militar no Brasil. Foi uma das melhores aulas que eu já tive. O Professor passou uma série de vídeos informativos, com músicas, relatos e fotos da época, não apareceu praticamente nada que eu já não soubesse, mas aquilo me tocou de uma tal forma que não consigo nem explicar. Eu sai da sala tremendo, a única coisa que eu tinha em mente eram os olhos do meu avô quando ele me disse "A melhor coisa que pode acontecer para uma universidade é a existência de alunos como vocês, que lutem pelo que é certo. Mas a melhor coisa que você faz filha, é ficar o mais longe disso possível". Foi ai que eu me dei conta de verdade do que foi o Regime militar, de quantas vidas foram destúídas para que nós tenhamos a liberdade que temos agora e eu me pergunto: O que fazemos dela?

A liberdade de imprensa é usada para divulgar quem está no Paredão do BBB, ou que a Madonna se divorciou e namora um cara mais novo, ou para cobrir o nascimento do filho de não sei quem. A maioria não sabe votar, não sabe opinar sobre algo, a maoria usa sua liberdade para pensar em si mesmo, para não se preocupar com o impacto que suas ações (ou a falta delas) pode causar na sociedade, no meio ambiente.

A maioria da pessoas não separa o lixo, ou separa errado, faz comprar no supermercado com sacolinhas plásticas porque tem preguiça de comprar uma Ecobag, e tem preguiça de mudar, tem preguiça de evoluir! A maioria das pessoas têm atitudes medíocres, fazem o que todos fazem, não têm coragem, ou capacidade mesmo de tomar uma atitude que vá na contra mão. Elas caminham com o vento e nunca contra ele.

Isso me deixa muito triste, saber que toda liberdade que temos hoje nesse país de maravilhas ecológicas, maravilhas culturais, esse país colorido!.Toda a liberdade que temos foi comprada com sangue de muita gente, e ela serve apenas para dar notícias fúteis e mostrar mulheres nuas em horário nobre na TV Globo.