quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu sei, mas não sabia!

Há cerca de 4 anos meu avô, o Paraguaio comunista, me disse algo que nunca esqueci, mas também não entendi muito bem. Estava contando para ele toda orgulhosa as coisas que eu e o pessoal do CA de Letras estávamos fazendo, contei das falcatruas da reitoria, do nosso Jornal, e etc com o peito cheio de orgulho, porque afinal de contas, meu avô foi um militante comunista, organizou geve, fazia reuniões escondidas, achei que ele ficaria orgulhoso de saber que eu também tenho uma visão crítica e sei que faço a diferença, aquela coisa do Vandré de "quem sabe faz a hora e nao espera acontecer". Depois de ouvir tudo o que tinha pra falar, ele soltou o violão olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e me disse num portunhol " A melhor coisa que pode acontecer para uma universidade é a existência de alunos como vocês, que lutem pelo que é certo. Mas a melhor coisa que você faz filha, é ficar o mais longe disso possível". Na hora não entendi muito bem o que ele quis dizer e falei qualquer coisa e tomei a vitamina que ele havia preparado para mim no café da manhã e fui embora protestar por alguma coisa.

Eu sempre li muito, e em algum momento enre Garcia Lorca, Drummond, Baudelaire e os Beatles eu li coisas sobre a ditadura. Então eu sei que o golpe de 1964 foi fabricado pelo imperialismo americano, eu sei que os militares tiveram curso de tortura com a CIA, eu sei do AI5, eu sei da passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, que a maior parte da dívida externa foi criada na época da Ditadura e que esse dinheiro foi usado para construir dezenas de estádios de futebol, ao invés de ser usado para a educação, ou para a saúde. Sei também que meu avô sumiu por uma semana na época do Regime militar e deixou minha vó ucraniana com 8 filhos desesperada; desesperada não, porque minha avó sempre teve solução pra tudo, a mulher é de aço.Eu sei que meu avô foi preso, sei que ele perdeu muitos amigos naquela época, outros enlouqueceram, se mataram, eu conheço muitas dessas histórias. Mas eu nunca pude entender tudo isso de verdade até ontem a noite.

Ontem eu tive uma aula sobre o período de Regime Militar no Brasil. Foi uma das melhores aulas que eu já tive. O Professor passou uma série de vídeos informativos, com músicas, relatos e fotos da época, não apareceu praticamente nada que eu já não soubesse, mas aquilo me tocou de uma tal forma que não consigo nem explicar. Eu sai da sala tremendo, a única coisa que eu tinha em mente eram os olhos do meu avô quando ele me disse "A melhor coisa que pode acontecer para uma universidade é a existência de alunos como vocês, que lutem pelo que é certo. Mas a melhor coisa que você faz filha, é ficar o mais longe disso possível". Foi ai que eu me dei conta de verdade do que foi o Regime militar, de quantas vidas foram destúídas para que nós tenhamos a liberdade que temos agora e eu me pergunto: O que fazemos dela?

A liberdade de imprensa é usada para divulgar quem está no Paredão do BBB, ou que a Madonna se divorciou e namora um cara mais novo, ou para cobrir o nascimento do filho de não sei quem. A maioria não sabe votar, não sabe opinar sobre algo, a maoria usa sua liberdade para pensar em si mesmo, para não se preocupar com o impacto que suas ações (ou a falta delas) pode causar na sociedade, no meio ambiente.

A maioria da pessoas não separa o lixo, ou separa errado, faz comprar no supermercado com sacolinhas plásticas porque tem preguiça de comprar uma Ecobag, e tem preguiça de mudar, tem preguiça de evoluir! A maioria das pessoas têm atitudes medíocres, fazem o que todos fazem, não têm coragem, ou capacidade mesmo de tomar uma atitude que vá na contra mão. Elas caminham com o vento e nunca contra ele.

Isso me deixa muito triste, saber que toda liberdade que temos hoje nesse país de maravilhas ecológicas, maravilhas culturais, esse país colorido!.Toda a liberdade que temos foi comprada com sangue de muita gente, e ela serve apenas para dar notícias fúteis e mostrar mulheres nuas em horário nobre na TV Globo.

2 comentários:

  1. Bom, não sei bem o que dizer.

    Esse texto me surpreendeu (ao contrário daquele logo abaixo, que é auto-indulgente!), e quando li o primeiro parágrafo achei que você iria chegar numa conclusão reacionária. Mas ao terminar de ler tudo fiquei com vergonha por ter duvidado do seu bom senso!

    Sobre a Ditadura, não gosto de pensar nela como o "princípio" da História contemporânea, mas apenas mais uma fase que deixou veias abertas. É lógico que foi um momento importante para se estudar, mas, na esteira do que o seu avô diz, não é bom tomá-la por paradigma, seja da esquerda ou da direita.

    Não sou muito saudosista, nem penso que as pessoas naquela época eram "mais politizadas" do que hoje. Pra se politizar não adianta ouvir Geraldo Vandré, mas sim os gritos cotidianos das pessoas, dos problemas de hoje. Seja o problema da precarização da educação, da não-efetividade da democracia, seja o problema das sacolinhas plásticas e da coleta seletiva de lixo.

    Enfim, você sabe que desde 2002 estou no movimento estudantil, junto com amigos como o Karpa e o Pirika. Já tive momentos inspiradores e também muito tristes. Mas agente aprende que, assim como nos relacionamentos amorosos, não adianta idealizar. Mais importante que a reflexão é a ação!

    Entonces, esse assunto é complexo demais para ser discutido num mero comentário de blog.

    Café?

    ResponderExcluir
  2. Pois é, concordo com você que para se politizar é preciso ouvor o cotidiano, mas o que me deixa triste é o fato de jusatmanete depois de tudo que esse aís passou,as maioria das pessoas não dá a mínima....pra nada!

    Cansei do movimento estudantil, vc sabe disso né? rs Depois de muito apanhar na FSA mudei para a Metodisney que mal tem representante de sala.

    Mas esse assunto é complexo mesmo, Vamos marcar um café sim senhor....só não sei quando porque está tudo na maior correria.

    ResponderExcluir