domingo, 12 de abril de 2009

A vítima

Sim, eu mesma, a vítima! Domingo passado fui fazer um depósito em cheque no banco aqui pertinho de casa. Assim que inseri o envelope apareceu na tela a mensagem "Operação cancelada" e meu envelope ficou ali, preso. Tentei umas, catingas e mandingas, mas não adiantou. Frustada fui para casa com a intenção de voltar no dia seguinte. Estava assistindo o Fantástico quando recebi a ligação do Sargento Nogueira:

- Boa noite! Por favor Audrey Angélica
- Eu mesma
- Boa noite Audrey, aqui é o Sargento Nogueira do 18° DP da Móoca, você efetuou um depósito em cheque no Banco hoje?
- Sim, mas não deu certo porque...
- Seu envelope de depósito está aqui na delegacia, você tem de vir aqui agora pra prestar depoimento.
- Agora?
- Agora!

Bom, quem sou eu pra discutir com o Sargento Nogueira? Pra começar ele é Sargento e eu sou apenas uma professora, ele tem uma arma e eu tenho um avental, sem contar que não estava fazendo nada muito interessante em casa mesmo. Coloquei minha pior roupa, afinal de contas, estava a caminho de uma delegacia, vai saber tipo de gente que tem lá? Não queria chamar atenção.

Chegando lá, fui muito bem recebida por todos os policiais, fui informada de que fui vítima de um esquema de boca de lobo, mas, a quadrilha foi presa na Móoca e o cheque que eu depositei em Santo André estava junto, e eu era a única vítima que foi localizada. Um dos oficiais, muito simpático, me levou até a sala do escrivão para fazer o tal do BO:

- Ow escrivão, a vítima de Santo André já chegou!
-Manda ela entrar!

- Escrivão Rafael boa noite! -disse ele me estendendo a mão- Pode se sentar. Quer dizer que seu cheque foi roubado?
- Pelo menos foi o que me disseram.
- Esses caras são uns safados mesmos. O que você faz?
- Sou professora de Inglês.

Nesse instante me arrependi profundamente de ter colocado a minha pior roupa, o escrivão Rafael era bonitão, e eu ali, com aquela roupa de fazer faxina, da próxima vez que for numa delegacia eu coloco uma roupa mais decente, para o caso de existir mais que um escrivão bonitão em São Paulo.

- Vamos lá, Nome: Audrey Angélica González Oliveira, Idade: 21 anos, Profissão: Professroa, estado civil?
- Solteira
- Solteira mesmo, ou tem namorado?
- Você vai colocar isso no relatório?

Não acredito!!! O escrivão bonitão está dando em cima de mim? Eu com essa roupa horrível? Putz....devia ter escovado os dentes! Perae, que falta de profissionalismo dele dar em cima de mim durante o expediente de serviço! Voltemos ao BO:

- Então você fez o depósito e o envelope ficou preso na máquina, depois retornou á sua residencia para posterior reclamação ao banco. Esse é o seu envelope?
- É sim, mas...essa não é minha conta, digo, está rabiscado por cima.
- Reconhece o envelope, porém sua conta está alterada no envelope. Certo....você não deve ser solteira, com esses olhos, você deve ter algum namorado.

Não acredito! O bonitão dando em cima de mim de novo? Deve ser esse perfume novo que eu passei na hora do almoço! Está ficando divertido hehehehe:

- De verdade...essa foi uma das piores cantadas que eu já recebi.
-Ñão custa nada tentar né? Bom é isso Audrey, vamos fazer o possível para não soltar esses safados, qualquer coisa a gente entra em contato com você, anota ai meu telefone caso você tenha alguma dúvida.
- Ah..claro

Alguma dúvida? Sei...que dúvida uma vítima de Quadrilha como eu poderia ter que o escrivão responderia? Consigo pensar em só uma " O que você vai fazer sexta a noite?". Quando estava saindo da sala do Escrivão bonitão, digo, Escrivão Rafael, o Sargento Nogueira apareceu, e não é que ele era baixinho, gorinho e careca do jeito que eu tinha imaginado?:

- Boa noite! Sargento Nogueira, nosa falamos ao telefone, tudo certo aqui?
- Tudo certo, já estou indo embora.
- Você confrmou se o envelope era seu mesmo?
- Era meu sim sargento, mas os números da minha conta estavam alterados.
- Como assim?
- Ah, rabiscaram por cima do numero da minha conta. Bom, prazer em conhecê-lo, Boa noite.

Na saida da delegacia, um engomadinho de terno e cabelo penteado me parou:

- Com licença, posso pegar seu depoimento?
- Hã? Claro...
- Ok, liga a câmera. Estamos aqui no 18° DP da Móoca com a vítima de uma quadrilha de assalto a bancos, uma professora de 21 anos, residente de Santo André , Audrey, como você se sentiu ao descobrir que foi vítima desse esquema?
- Ah...não foi legal não

Mew!!!!! Era eum cheque de 100 conto!!! Impossível que não tinha ninguém sendo atropelado, ou asassinado ás 2 da madruga em São Paulo, sério mesmo que o engomadinho estava cobrindo um assalto de 100 conto na madrugada do domingo pra segunda????? Fiquei bege! Quando estava na metade do caminho, o Sargento Nogueira ligou pedindo que eu voltasse á delgacia.

Quando cheguei de novo no DP, já tinha meia dúzia de engomadinhos com uma câmera nas mãos, de novo pensei que talvez eu pudesse ter escolhido uma blusa que não estivesse manchada pelo menos, e não vou nem falar da calça que estava usando!

- A senhora me acompanhe por favor!
- Sim senhor Sargento

Ele me mostrou uma foto do meu envelope que foi tirada assim que eles prenderam a quadrilha, e adivinha só? Minha conta não estava rabiscada por cima! Ou seja, algum momento entre prender os caras e pegar meu depoimento com o Escrivão Bonitão, digo, Escrivão Rafael, meu envelope foi adulterado. Alguém de dentro da polícia rabiscou por cima dos números da minha conta! Resultado: Tive que mudar o meu BO:

- Fala a verdade escrivão, você sentiu minha falta né? rs.
- Tanto que vou dar um beijo em quem adulterou aquele envelope.

Os policiais desconfiavam do Delegado, e cá entre nós, ele não parecia muito confiável não.Depois de mudar novamente meu depoimento fui embora, na saida os outros engomadinhos pegaram meu depoimento também e finalmente fui para casa!

No dia seguinte foi péssimo receber recados no Orkut do tipo " Te vi na Record, tá tudo bem?", ou os pais de aluno " Te vi na globo hoje de manhã, mas que sacanagem, hein?". Caramba, por causa de um cheque de 100 conto eu apareci nas páginas policiais de todos os jornais, como "a vítima", como se além de me roubar os caras tivessem me espancado e xingado a minha mãe. Eu até fiquei com dó de mim quando vi o noticiário " Uma professora, de 21 anos de Santo André, foi vítima nesta madrugada, de uma quadrilha" quanta injustiça nesse país!

4 comentários:

  1. Séria mesma essa história? Nunca dei tanta risada e tô por fora tb hein hauahauha Adorei seu conto, q ñ foi de fadas, mas enfim... Dá uma olhada no meu blog tb de vez em qdo. Bjos, até!

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  2. kkk pior que é verdade essa história...trágico eu diria rs

    Vou ver seu blog!

    Bjus

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  3. Que história fantástica!!!

    poxa, vai dizer que não valeu a pena?
    hahahah

    ri muito, de verdade.

    ainda bem que deu tudo certo.

    e aí, ligou pro Escrivão? rs

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  4. kkk nao Luca, não liguei...q futuro teria eu com um cara q trabalha de madrugada???? rs

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